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quinta-feira, 17 de março de 2011

Sabe? É aquela que...



Ontem à noite, quando eu cheguei para trabalhar, as pessoas estavam falando sobre um funcionário que falecera no final de semana.

- Sabe o fulano? Aquele que trabalhava no setor tal?
- Sei não. Um que era assim e assado?
- Não. Um que era assim, assim e assado. Que estava afastado.
- Ah, sei. Nossa, mas ele era tão novo...

E por aí foi a conversa. E sabe quando alguém solta a frase que vai te valer o dia todo? Pois aconteceu ontem.

Quando eu já estava quase saindo do vestiário, uma outra funcionária fez a seguinte observação: todo mundo tem uma marca, características que te identificam, quando alguém precisa explicar quem você é. E essa marca, independente de aceitarmos ou não o fato, somos nós quem construímos.

E eu fiquei com meus pensamentos. Alguns (ou vários) amigos já me disseram que eu penso demais. E penso mesmo! Me arrebento de pensar, de tentar ver as coisas de outro jeito, de tentar entender e de tentar melhorar. Porque eu acho que viver só pra gastar o O2 disponível no planeta é pouco.

Então, como sempre, eu pensei. Muito.

Fiquei imaginando qual seria a minha marca. Teci mentalmente conversas amenas, em que as pessoas me identificavam como Aquela, baixinha, de cabelo loiro, que vivia rindo e que andava parecendo que desfilava... ou outras bem mais assustadoras como aquela baixinha, que falava demais e ria o tempo todo, parecendo que não tinha mais nada pra fazer na vida.

Não acho que podemos controlar a maneira como as pessoas nos veem, mas a maneira como nos apresentamos. E no fim das contas, tudo isso aí passa pelo crivo do amadurecimento - o que, no meu caso, tem demandado esforço e muito matutar.

 Embora meu pensar não tenha me elucidado qual é a minha marca, visto que para isso seria necessário muito feedback (e feedback às vezes doi), ele me mostrou o que absolutamente não quero ter como característica definidora.

Não quero ser conhecida ou lembrada pelo mau-humor, nem pela maldade ou pela ganância desmedida. Deus me livre de carregar o estígma de reclamona, fofoqueira e traíra. E deve ser terrível de verdade - batendo na madeira agora - ser lembrada (ou esquecida) por ser uma pessoa assim, assim, sem sal, açucar ou tempero. Aquela pessoa que passou a vida inteira ali e não deixou marca nenhuma.

Se eu não quero nada disso, então o que quero?

Essa é fácil. Quando eu não estiver mais por aqui, quero que me lembrem como uma pessoa intensa, que não teve medo de batalhar, que se jogou na vida e a encarou de frente. Quero que se lembrem que eu sorria muito, que me esvaía em doação, que comigo não tinha tempo ruim. Quero que se recordem que eu era meio doida e muito apaixonada. Quero que se registre meu amor alucinado, incondicional e incessante por minhas filhas e que se recorde minha ânsia por viver.

Se é isso que vai acontecer? Não tenho a menor ideia. Mas vou aqui e acolá tentando pisar nos lugares certos, para que as pegadas que deixar atrás de mim conduzam a um lugar melhor

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